FACES da RUA, premiado documentário potiguar, finalmente na WEB!

Faces da Rua

...On Civone Medeiros TV on Vimeo

Documentário, 16',17"

Produção/Imagens > Paulo Lima (Borracha)
Direção/Edição > Luiz Peres (Bolo)
Locução > Edilson (Pessoa)
Captura/Imagens > Beto (Beatnik)
Edição/Áudio > Rivadávio (Nepo)

ICAP ~ Natal/RN Brasil, 2003

institutoculturalpotiguar@gmail.com
www.icapcultura.blogspot.com



"Filmado em uma
câmera toda lascada...
Editado em um precário
PC sem memória...
Haja persistência e
muuuuiiitta paciência..."



Resenha:

O plano geral está enquadrado. A equipe de produção porta uma câmara de vídeo amadora e pretende registrar a movimentação de um dos pontos mais antigos da boemia natalense, o Beco da Lama, na Cidade Alta. Gardênia, pseudônimo homossexual de um freqüentador do local, entra em foco. Visivelmente embriagado, aproxima-se cada vez mais da lente, reduzindo o pretenso plano geral a um detalhe de sua boca, seus olhos, quase esfregando a face na câmara. “Qual é o babado?”, pergunta Gardênia. Segue-se uma verborragia quase incompreensível.

Foi assim que começou o projeto “Faces da rua”, vídeo ganhador de melhor documentário da mostra potiguar do Festival de Cinema e Vídeo de Natal (FestNatal) e também escolhido pelo júri popular do Curta Natal Mada como a melhor realização local da mostra, ambos realizados em 2003 na Casa da Ribeira. Gardênia não havia sido convidada para dar qualquer depoimento, entrou ao acaso na produção e acabou traçando parte do conceito estético que os realizadores procuravam. Os enquadramentos fechados acabaram sendo rotina nas entrevistas, o que resultou em uma unidade frente ao mosaico de depoimentos que o vídeo apresenta.

“Faces da rua” foi a primeira produção de seus realizadores, Luís Peres (“Bolo”) e Paulo Lima (“Borracha”). Eles explicaram que no início não existia muito planejamento, “era uma idéia na cabeça e uma câmara na mão”, parafraseando o conceito maior do Cinema Novo de Glauber Rocha. “Compramos a câmara porque queríamos fazer um vídeo. Mas não tínhamos ainda a idéia”, lembra Luís Peres.

A escolha para os entrevistados de “Faces da rua” não seguiu um critério muito rígido. “Escolhemos pessoas alegres. Queríamos figuras tarimbadas e que tivessem algo para dizer”. Alguns dos escolhidos são folclóricos em Natal, como os músicos de rua André da Rabeca (Zé do Violino) e “seu” Vicente, que toca sanfona. Há até um bêbado que recita um poema de Baudelaire: “... embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher”. Nada mais adequado. Embora a cena pareça espontânea, Paulo Lima confessa que pediram para ele recitar os versos.

A edição do vídeo foi, no mínimo, curiosa. Depois de gravarem todas as imagens, algo em torno de 30 horas de material bruto - dividido em 15 fitas - partiram para a trabalhosa etapa da edição de imagens. A edição foi feita em um laptop, consumindo três dias ininterruptos de trabalho e muita paciência. “A gente se revezava para dormir”, garante “Bolo”. Ele assina a direção e edição do curta-metragem.

A edição de “Faces da rua” também ficou a cargo de Luís Peres. “Na edição é que demos a linguagem do curta. Ele ficou com uma cara de vídeo-clipe”, comenta. “Bolo” ainda afirma que nunca havia trabalhado com qualquer programa de edição de imagens. “Foi feito na base de tentativa e erro. Deu uma trabalheira danada, mas foi muito divertido”.

Para complicar ainda mais o trabalho, “Faces da rua” abusa de pequenos efeitos especiais, como o surgimento na tela de várias imagens simultâneas, divididas em quadros distintos. Essas seqüências aparecem geralmente para separar os depoimentos e introduzir no curta os momentos mais reflexivos, já que todo o vídeo é permeado por um tom cômico. Para cada cinco segundos desses efeitos, eram necessários 30 minutos para que o computador processasse os dados. Caso fosse constatado erro, todo o processo tinha que ser refeito.

Com as “sobras” de material, Luís Peres e Paulo Lima pretendem fazer outros projetos. O próximo deverá se chamar “Papos do Álcool” e será dirigido pelo sócio “Borracha”. Os dois realizadores ganham a vida com programação de computadores e desenvolvimento de softwares.


Por Aristeu Araújo (repórter)
Resenha/Matéria publicada na Revista PREÁ/FJA (Setembro, 2003)